- Ai que vem aí o fim do mundo!
- Ai valha-nos Deus Nosso Senhor!
Gritavam duas mulheres que passavam
pela Barroca da Lamega com as mãos na cabeça, completamente atarantadas.
- Quem é que morreu?
Gritava a minha mãe, apavorada,
enquanto saía de casa com passos apressados.
- É uma guerra que vem aí!
E corriam em direção às suas casas,
cheias de medo, como se a aldeia tivesse sido tomada por invasores…
Eu tinha acabado de chegar da escola.
De pé ligeiro, subi ao cabeço da Barroca, para daí, tentar avistar alguma coisa
estranha. Ao fundo, a minha mãe gritava e gesticulava atrás de mim, chamando-me
incessantemente. E, ao seu jeito, ameaçava:
- Olha que na sexta-feira vou contar
ao teu pai!
Sem fazer caso das suas palavras, ali
do cimo do mundo, espreitava em todas as direções, mas não avistava nada de anormal.
A aldeia estava cheia de sol, numa
linda manhã de primavera.
João Rosário Matos
(in: Margem de Sonhos)
As memórias, umas imprecisas outras mais vivas do 25 de Abril de 1974. Um marco histórico na vida de um país que nunca mais foi o mesmo. Obrigada por partilhar as suas, João. VIVA O 25 DE ABRIL!
ResponderExcluirMuito obrigada, Isabel Vilaverde!
ResponderExcluirVIVA O 25 DE ABRIL!